terça-feira, 16 de abril de 2013

Médico comunicador

Profissional da medicina entrevista profissional da comunicação

No palco do teatro Eva Herz, dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista), duas personalidades conhecidas do público. De um lado, o médico oncologista Drauzio Varella; do outro, o jornalista Caco Barcellos. Ambos diante de uma modesta platéia. E qual dos dois era o entrevistador? O Dr. Drauzio. Caco Barcellos era o convidado para mais uma entrevista a ser publicada no site do médico. O encontro foi gravado na noite de uma segunda-feira, 25/03.

Drauzio Varella (à esq.) e Caco Barcellos são colegas de emissora.
O principal assunto do bate-papo eram os casos de violência relatados no livro “Rota 66” escrito pelo jornalista da TV Globo. O foco principal desta obra de Barcellos era elucidar a morte de diversos moradores das periferias que perderam a vida, de forma suspeita, na mão de policiais. Segundo Caco, “a grande dificuldade era encontrar um sobrevivente” para provar a existência de execuções (com conivência do Estado), ao invés do tiroteio sustentado pelos policiais para justificar a morte de jovens pobres em pleno vigor da ditadura militar.

Não bastasse o interesse do tema em discussão, Drauzio interferia e conduzia a entrevista com bastante sutileza, deixando espaço para que o jornalista convidado pudesse se aprofundar nos detalhes das histórias descritas no livro. Entre esses detalhes, estavam os mecanismos de extermínio utilizados por uma polícia auxiliar ao regime da época. “Foi ali que comecei o meu trabalho”, afirmou Barcellos, antes de explicar a dinâmica das execuções. Os oficiais da ROTA (Ronda Ostensiva Tobias Aguiar), de São Paulo, atiravam em pontos vitais e socorriam as vítimas depois, porque “se você não tem vítima no local, não tem perícia”, justificou. E como as vítimas se tratavam de pessoas humildes, mal havia investigação. Resumindo o pensamento daquela época, o jornalista concluiu: “filho de trabalhador, de baixa renda, que se dane”.

Próximo da precisão cirúrgica, o encontro entre Drauzio e Caco não foi além do tempo e cumpriu o protocolo. A proximidade do doutor com a morte em massa de presos no extinto presídio do Carandiru, (que também lhe rendeu o livro “Estação Carandiru“) chegou a ser mencionado para reafirmar os relatos de “Rota 66”. Em outro momento, o médico entrevistador ressaltou a familiaridade de seu entrevistado com o jornalismo investigativo. “(Você) só pegava temas leves”,  brincou Varella, quando Caco começou a contar suas passagens pela ditadura da Nicarágua e o interesse em cobrir a situação de palestinos sem terra no Líbano.

Os percalços e aprendizados adquiridos por Caco Barcellos durante a produção de outro livro, mais recente (o “Abusado”) também foram abordados. Apesar do peso dos temas, a leveza ficou garantida pelo estilo descontraído do jornalista. E Drauzio Varella acompanhou esse ritmo, ao seu modo. Após ouvir de seu convidado os pré-requisitos de um assaltante, como ter bons contatos, acesso a informação e não manter vínculos com comparsas, além da forma desigual com que distribui os frutos do roubo, o médico comentou: “o crime é de direita”. E a platéia riu.

O Dr. Drauzio Varella está acostumado a se envolver nos desafios da comunicação. Na TV Globo, por exemplo, ele já conduziu diversos quadros que esclareciam assuntos de saúde, principalmente no jornalístico “Fantástico”. O último foi o “Males da Alma”, com o objetivo de abordar doenças de fundo psicológico.

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