domingo, 26 de agosto de 2012

Uma manchete, duas abordagens


Notícia da política nacional desafia interesse do público

Não é pecado algum afirmar que a editoria de política é a mais reveladora quanto a condução da informação de um veículo de comunicação. Ironicamente, o mesmo tema é o mais evitado pela  população que, desacreditada diante das diversas manchetes com denuncias de corrupção, não se inibe em assumir total falta de conhecimento sobre o assunto. Tal postura pode representar a dificuldade de muitos brasileiros em se preocupar e entender as regras estabelecidas para reger o convívio em sociedade.

Reprodução das edições nº 711 de Carta Capital e nº 2.282 de Veja.
Ainda assim, é difícil encontrar algum jornalístico de expressivo alcance ignorando por completo as movimentações no mundo da política. Não raro, esses casos estão na capa, a exemplo das últimas medidas anunciadas pelo governo federal, com o objetivo de agilizar o desenvolvimento do Brasil. De acordo com a presidente Dilma Rousseff, será concedida à iniciativa privada a construção e administração de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias em várias partes do país. A notícia ganhou espaço de destaque nas revistas "Veja" e "Carta Capital", com abordagens distintas.

Veja: texto em defesa do Capitalismo acompanhou matéria.
Ao principal título da Editora Abril coube o trabalho de valorizar a decisão do governo pertencente a um partido que, outrora, mostrou-se radicalmente contrário aos planos de privatização. De diversas formas, em diversos momentos da cobertura sobre a próxima medida vinda de Brasília, o texto de Otávio Cabral repetiu que "o choque de capitalismo de Dilma" era "um grande passo na direção certa". A matéria, por outro lado, não expôs a manifestação de especialistas ou envolvidos na decisão do executivo, passou a explorar os detalhes do projeto de concessões e questionou o uso desse termo pela presidenta, em lugar da palavra "privatização".

Já a revista de Mino Carta publicou, na semana seguinte ao texto de capa da "Veja", uma reportagem de Luiz Antonio Cintra, no qual o objetivo principal era evidenciar as diferenças do projeto de concessão do governo Dilma, em comparação às privatizações de outros tempos. "Carta Capital" ressaltou os pormenores estipulados pela presidente para alcançar os resultados esperados e minimizou as discussões em torno da opção de privatizar, ante a manifestação da oposição que sempre teve esse tipo de medida como uma de suas bandeiras.

Carta Capital: colunistas também avaliaram medida do governo.
Em 6 páginas de reportagem (2 a menos que na "Veja"), a "Carta" de Mino trouxe depoimentos de especialistas e justificou a atitude do governo em recorrer ao investimento direto de empresários, graças a burocracia e ineficácia das leis de licitação e outros métodos em que o Estado era o principal gerente de obras, mas não conseguia garantir sua qualidade. Por fim, a publicação desafia: "resta saber se o pacote vai despertar o 'espírito animal' do empresariado, que anda adormecido por causa da crise mundial".

Atestada a riqueza e diferença de detalhes nas abordagens, a importância do tema e a interferência direta no cotidiano da população demonstram o quanto a política não pode ser subestimada, apesar dos exemplos negativos. Acompanhar os desdobramentos de seus eventos também é mais um desafio apresentado pela postura de dois ou mais veículos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...